Corpos invisíveis

O Canal do povo Novalimense
Carlos Roberto da Silva (39) morava debaixo de uma marquise na Mooca, São Paulo. Estava sempre acompanhado por sua carroça, utilizada para catar papelão, sendo uma forma de “ganhar seu dinheirinho”, como apontaram moradores que o conheciam. A fama era de pacato. Algumas vezes, era ajudado pela vizinhança com alimentos, entretanto, mesmo com apoio, sabe-se que morar nas ruas não é algo fácil. A condição desumana chega carregada de preconceito, invisibilidade social e falta de oportunidades. Mas, foi, no último domingo (5), que essa dura realidade transpassou todos os limites e registrou mais um capítulo de impunidade no país. Imagens de uma câmera de segurança mostraram quando um homem se aproximou de Carlos Roberto, enquanto ele dormia, e ateou fogo no morador de rua, utilizando algo semelhante a combustível.
Carlos estava internado em estado grave e morreu nessa segunda-feira (6). O suspeito do crime continua foragido. Tamanha atrocidade não é um caso isolado e se mostra constante. O Brasil carrega nos ombros casos como a morte do cacique da tribo Pataxó Hã-hã-Hãe, Galdino Jesus dos Santos (44), queimado vivo em um ponto de ônibus onde dormia em Brasília (DF). Galdino havia chegado à capital para comemorar, com protestos, o Dia do Índio (19 de abril). Os responsáveis pelo crime: cinco jovens de classe média que resolveram “brincar”, após curtir uma noitada. Segundo informações, eles estão soltos.
Galdino foi morto há mais de 20 anos. Carlos Roberto morreu nessa segunda. O passar dos anos parece não ter ensinado nada àqueles que se sentem no direito de tirar a vida de alguém, e de forma tão cruel. E, apesar do esforço aparente de autoridades de segurança para encontrar os criminosos, a impunidade diante das mortes também parece continuar a mesma, o que dá carta branca para que novas “brincadeiras” como estas continuem sendo praticadas.