O coronavírus alcançou as florestas brasileiras. Depois de seis dias internado na UTI de um hospital na capital de Roraima, Alvinei Xirixana, de 15 anos, da etnia Yanomami, que testou positivo para a Covid-19, faleceu na primeira semana de abril, mês em que é celebrado os povos originários. Entre outros sintomas, ele apresentou uma crise respiratória aguda grave. Foi o primeiro indígena diagnosticado com a doença. Outros dois óbitos foram registrados no Amazonas e nove casos foram confirmados em terras indígenas, segundo a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI).
Mas, como o vírus chegou até as aldeias? As regiões indígenas são alvo de
grileiros, posseiros, madeireiros e de garimpos ilegais. No último domingo (12), o programa Fantástico, da Rede Globo, apresentou uma reportagem sobre uma operação realizada pelo Ibama, que desmantelou serrarias e garimpos ilegais no Pará, em plena atividade, abrindo feridas na floresta. Foi observado que as invasões se multiplicaram e os alertas de desmatamento na Amazônia aumentaram. Ao que tudo indica, devido à expectativa de que a fiscalização ambiental não fosse realizada com rigor em função da pandemia.
Além das questões ambientais, as ilegalidades se tornam problemas de saúde pública, uma vez que, tais invasores podem ser potenciais transmissores do novo coronavírus aos índios. Entretanto, a transmissão expõe outras mazelas da população nativa, como a falta de proteção territorial e de promoção do direito à saúde por parte do governo brasileiro. A ganância por ouro, terras e madeira, atacam e tornam mais vulneráveis os indígenas. Cabe a nós, habitantes de centros urbanos, muitas vezes privilegiados, incluir essas demandas dos povos originários em nossas reflexões a cerca da pandemia e da desigualdade social e contribuir de alguma forma para mudar essa realidade.